quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Espírito Santo e o Conclave

Pareceu-me oportuno publicar o artigo de Hélio Dias Viana, conforme os leitores poderão perceber.



Em face da inusitada abdicação de Bento XVI, estamos na iminência de um conclave para eleger o novo Papa.

É corrente e inteiramente conforme com a verdade admitir a ação do Divino Espírito Santo nessa ocasião.

Mas cumpre esclarecer que, contrariamente ao que muitos pensam, o Espírito Santo não age sozinho.

A escolha será feita por homens — no caso, por cardeais, livres para corresponder ou não às inspirações do Paráclito —, de tal forma que, ao sair o novo Papa, não se pode pura e simplesmente dizer que foi o Espírito Santo que o escolheu.

Quantas vezes o Espírito Santo se tem deixado “derrotar” por injunções políticas dos homens, para castigo destes!

Aliás, o vaticanista norte-americano John Allen reproduz as seguintes palavras de Bento XVI, quando perguntado sobre o papel do Espírito Santo na eleição dos Papas:

“Eu não diria, no sentido de que o Espírito Santo escolhe o Papa. [...] Eu diria que o Espírito Santo não assume propriamente controle da questão, mas que, como bom educador que é, nos deixa muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar inteiramente. Portanto, o papel do Espírito Santo deveria ser entendido num sentido muito mais elástico, não de que Ele dite o candidato no qual devemos votar...”.

* * *
Foi pensando em tudo isso que me veio à mente a enorme expectativa criada pelo lulo-petismo em torno do anterior conclave que elegeu Papa o então Cardeal Ratzinger, em 2005.

O PT esperava ver alçado à direção suprema da Igreja um cardeal brasileiro que simpatizasse com sua causa, pois, diziam seus líderes, para a vitória definitiva do socialismo no Brasil e na América Latina, só precisavam de um Papa que os apoiasse. E Dom Cláudio Hummes, Arcebispo de São Paulo, estava então no centro da preferência dos petistas.

Essa expectativa, como se vê, não se realizou. E, apesar de aparelhado nestes últimos dez anos, o governo petista continua desnorteado, pois não conta com o apoio da opinião pública majoritariamente católica. E seu malogro nas últimas eleições municipais só não foi maior, porque obteve nos meios eclesiásticos de São Paulo, alguém que foi decisivo para a vitória do marxista Fernando Haddad.

Mas pode-se perguntar: se a expectativa petista para o conclave de 2005 tivesse se verificado, a escolha teria sido inspirada pelo Espírito Santo?
_____________ 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

E o futuro Papa?


Que Nosso Senhor, cabeça da Igreja, suscite um novo Adriano VI proporcionado aos problemas de nossos dias. Para edificação e esperança dos leitores, a leitura do texto abaixo parece realmente oportuna.
Esse texto, contendo uma alentada citação do Papa Adriano VI, é de Plinio Corrêa de Oliveira, e o extraímos de seu prefácio ao livro: “A TFP: uma vocação. TFP e famílias. TFP e famílias na crise espiritual e temporal do século XX”. (http://www.pliniocorreadeoliveira.info/PRE_8602_Papa_AdrianoVI_meaculpa.htm).
Por brevidade, deixamos de transcrever as notas de rodapé referentes ao prefácio.

Adriano VI (1522-1523), nascido em Utrecht (Holanda), mas considerado o "último Pontífice alemão" até que fosse elevado à Sé de Pedro o Papa Bento XVI (2005-2013).

A família e a Igreja em crise
        A responsabilidade por essa situação desastrosa não toca apenas ao Estado.
        A Santa Igreja Católica, a única verdadeira Igreja de Deus, se vê envolta hoje em uma crise cuja gravidade já foi discernida por Paulo VI, bem insuspeito, entretanto, de pessimismo ou animadversão para com o mundo moderno, ao qual fez aberturas que surpreenderam por vezes não poucos dentre os melhores.
        João Paulo II, entretanto tão benévolo – ele também – em relação ao mundo moderno, expendeu reflexões análogas; e um Prelado eminente pelo saber e pelas altas funções que ocupa na Santa Igreja, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, publicou em 1985 seu famoso "Rapporto sulla Fede", no qual se deve louvar a nobre franqueza com que descreve sintomas altamente expressivos da crise que lavra como um incêndio no interior da Santa Igreja.
        O valor deste autorizado testemunho cresce ainda de ponto considerando-se que o Purpurado, quer no conjunto de sua obra de intelectual, quer em sua atuação à testa do ex-Santo Ofício, vem seguindo uma linha que não permite incluí-lo honestamente entre os que as "mass-media" qualificam de reacionários, saudosistas, extremistas da intolerância etc.
        Ora, de onde procede essa dolorosa crise na Igreja? Sem dúvida, e em larga medida, de agentes do Leviatã comunista que, de fora da Cidade Santa, se empenham com esforço total em destruí-La. Mas uma pesquisa dos fatores dessa crise não seria lúcida nem proba se se limitasse a olhar para além dos muros dEla. Cumpre indagar se também entre os católicos – entre os leigos bem entendido, mas também nas fileiras augustas da Sagrada Hierarquia – há propulsores de tal crise.
        A pergunta pode surpreender a alguns… dia a dia menos numerosos. Não faltará ainda quem brade, alarmado, que ela é escandalosa, revolucionária, blasfema.
        É explicável que a tais reações conduza a crassa ignorância religiosa em que estão imersos tantos fiéis neste triste ocaso do século XX. Na realidade, se conhecessem melhor a doutrina e a História da Igreja, a reação deles seria bem outra. A fim de evitar digressões doutrinarias, destinadas a aplacar tal estranheza, as quais se afastariam por demais do eixo central das presentes considerações, basta lembrar aqui um documento memorável, a instrução do Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes alemães reunidos em dieta, em Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523.
            Transcreve largos trechos desse documento o historiador austríaco Ludwig von Pastor em sua obra célebre "Geschichte der papste" – História dos Papas. A conjuntura em que essa instrução foi ditada pelo Pontífice se insere na terrível crise protestante do século XVI, tão semelhante e ao mesmo tempo tão menos profunda do que a de nossos dias.
        Dessa Instrução destacamos os seguintes tópicos:
        "Deves (dirige-se o Pontífice ao Núncio Chieregati) dizer também que reconhecemos livremente haver Deus permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos pecados dos homens, e especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de certo não se encurtou a mão do Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos afastam dEle, de modo que não nos ouve as suplicas.
        "A Sagrada Escritura anuncia claramente que os pecados do povo tem origem nos pecados dos sacerdotes, e por isto, como observa (São João) Crisóstomo, nosso Divino Salvador, quando quis purificar a enferma cidade de Jerusalém, dirigiu-se em primeiro lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes; e nisso imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz.
        "Bem sabemos que, mesmo nesta Santa Sé, ha já alguns anos vem ocorrendo, muitas coisas dignas de repreensão; abusou-se das coisas eclesiásticas, quebrantaram-se os preceitos, chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a enfermidade se tenha propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos Prelados.
        "Nós todos, Prelados e Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um de nós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira.
        "Por isto (igualmente) deves tu prometer em nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligencia a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a Corte romana, da qual talvez se tenham originado todos esses danos; e acontecerá que, assim como a enfermidade por aqui começou, também por aqui comece a saúde.
        "Nós nos consideramos tanto mais obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante reforma.
        "Porém não procuramos nossa dignidade pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom grado teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o supremo munus pastoral. Em consequência, queremos exerce-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga formosura, prestar auxilio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos, e genericamente fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro.
        "Não obstante, que ninguém se surpreenda, se não corrigirmos todos os abusos de um só golpe; pois as doenças estão profundamente arraigadas e são múltiplas; pelo que é preciso proceder passo a passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos mais graves e perigosos, para não perturbar ainda mais a fundo por meio de uma precipitada reforma de todas as coisas. Com razão diz Aristóteles que toda mudança repentina é muito perigosa para uma sociedade" . 
        Quantos ensinamentos profundos há a deduzir dessas nobres e sábias considerações! Ninguém as pode tachar de irreverentes para com a Santa Igreja, de escandalosas, revolucionárias, blasfemas, como de bom grado o fariam certos católicos de vistas estreitas.
        E quantos exemplos concretos haveria que citar em cada país da Cristandade contemporânea em confirmação desses ensinamentos de Adriano VI! (...).