O ser humano é constituído de corpo e alma.
Em outras épocas, relembrar esta verdade ao iniciar um artigo, seria uma banalidade antipática, uma vez que, para o comum das pessoas, era evidente a prevalência dos valores espirituais sobre os materiais, os físicos.
Lamentavelmente, em nossos dias, tornou-se necessário lembrar o óbvio, uma vez que o óbvio já deixou de ser óbvio em muitos aspectos. Poder-se-ia até se perguntar se essa cegueira para com o óbvio não mereceria ser qualificada de loucura.
Outrora era óbvio que o idealismo era um valor. O idealista era uma pessoa que almejava algo que estava acima dele e era mais do que ele, a que ele se dedicava com um amor maior do que aquele que tinha por seus interesses meramente pessoais. Evidentemente para ser autêntico tinha que ser um idealismo afim com Deus.
Atualmente, em consequência da liquidação de valores que domina o mundo, o idealista vai se tornando cada vez mais raro. O comum das pessoas vai se tornando cada vez mais materialistas e menos espirituais; por isso um esportista é muito mais valorizado do que um intelectual, por exemplo.
No texto que ofereço aos meus leitores, de autoria de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, - para quem o conheceu pessoalmente e a sua história -, talvez o maior idealista do século XX, o equilíbrio que rege o verdadeiro idealista está muito bem expresso nas considerações em torno da garça. Comprovem:
“Há um bicho que sempre me encantou, e ao mesmo tempo me deixou meio desconcertado: a garça.
“Em primeiro lugar, por causa daquela cor branca nívea, que me agradava muito. Depois, aquela construção, se assim se pode dizer, pela qual a garça tem aquele pelote branco, de onde sai um pescoço delicado e elegantemente torneado, com uma cabecinha para ter olhos e narinas e um bico muito grande, dando a impressão de capacidade de captar, de prever e agir à distância. E tudo sobre duas perninhas muito fininhas. À primeira vista tem-se a impressão de que flutua no ar, e que a garça não está pisando em nada. Só se percebe que ela se move numa ocasião, quando num passo elegante, com aquelas pernas compridas, abre a pata de palmípede e marcha. Ela anda com tanta finura e autoridade, no minúsculo território onde ela é rainha, que dá gosto, a quem aprecia o princípio da autoridade, ver a garça mover-se.
“Se ela fosse capaz de pensar, faria um raciocínio assim: “Que vida eu levo! Tenho pernas tão frágeis, que qualquer coisa me quebra. Sou feita para andar no meio dos pântanos e para encontrar minha comida nos vermes que todo mundo reputa sujeira. Eu sou, na minha brancura nívea, uma coletora de insetos. Meu bico tão comprido, tão seletivo, tão exigente, é um captador de coisinhas, vermículos e porcarias. Que vida eu levo!”
“Como ela deveria achar triste a sua vida.
“Em determinado momento, algum instinto se move nela, ela abre suas asas e voa. Adeus, pântanos! Adeus, insetos! Ela também tem o ar. Além de tudo ela tem as vastidões, o sol que bate nas suas asas e a torna rutilante como se fosse feita de neve. Ela corta o ar com um vôo muito mais elegante do que a elegância de seus passos, e ela vive os seus grandes dias.
“Assim são também os homens idealistas, obrigados a fazer na vida de todos os dias a coleta do indivíduo, que diante desta grande perspectiva é quase um inseto. É no pantanal das indecisões e incompreensões que é preciso viver.
“Mas a Providência dá horas em que a garça voa, em que o homem de ideal voa também. São as consolações celestes, as recompensas e as horas em que a TFP (fundada por ele), por exemplo, pode abrir largamente as suas asas diante de todo o mundo e brilhar, refletindo na sua alvura e na pureza de seus ideais, no rigor de sua ortodoxia, no entusiasmo de sua dedicação, sem intuito de remuneração nem recompensa terrena, a santidade do próprio Deus, como a garça reflete o brilho do próprio sol.”
sábado, 11 de fevereiro de 2012
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