segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Para degustação dos mais argutos


Uma adepta entusiasta de Plinio Corrêa de Oliveira me encaminhou o artigo abaixo, o qual eu reproduzo aqui para a degustação dos espíritos mais argutos.





A Beatificação de Pio X, o campeão do antimodernismo
                                                                                                                                                     Plinio Corrêa de Oliveira




Notícias provenientes de Roma informam que o processo de beatificação de Pio X está muito adiantado, tendo entrado em sua última fase. É assim que falta apenas o último exame dos inúmeros documentos que formam o processo. Logo após será promulgado o decreto de beatificação, em data que se crê bastante próxima, isto é, em princípios de 1942.

A elevação de Pio X à honra dos altares terá um significado todo especial, na época difícil que o mundo atravessa. Muito se tem procurado deformar a fisionomia do grande Pontífice, para mostrar apenas o aspecto manso, humilde e simples, desprezando a sua energia sem limites, a sua decisão inflexível, o seu zelo heróico e inquebrantável pela pureza da doutrina. Chegam mesmo a fazer de Pio X a figura de um bonachão simplório, ao agrado dos liberais, dos desfibrados e dos sentimentais.

Contudo, no santo Pontífice é preciso não separar, nem preterir uma a favor de outra, as duas qualidades, que são, aliás, as qualidades de todo e qualquer bom católico: a suavidade e a fortaleza. Suavidade, que não deve ser a pieguice mórbida das sensibilidades descontroladas, mas que é antes de mais nada o domínio absoluto da razão sobre as paixões, sobre as idiossincrasias, sobre os afetos, sobre todos os movimentos da parte inferior da natureza  humana. Fortaleza, que não deve ser a brutalidade estúpida dos bandidos e dos tiranos, mas a determinação inabalável de cumprir o dever, custe o que custar. E assim Fortaleza e Suavidade não se excluem nem se opõem, mas se completam e se harmonizam.

Pio X realizou maravilhosamente, em sua vida, a síntese destes dois aspectos do Catolicismo. Acolhedor e afável para os bons e os verdadeiramente arrependidos, foi o martelo inexorável das heresias, não regateando os golpes com que feriu os propagandistas do erro. E é este mesmo Papa doce e amável quem acumula, em suas encíclicas, as expressões duras e contundentes contra os semeadores da mentira e da discórdia. E ainda aí havia suavidade, a inenarrável suavidade do pastor que, por amor de suas ovelhas, acomete corajosa e intrepidamente, sem cuidar de si, a matilha dos lobos esfaimados.

As taras acumuladas durante o século XIX vieram abrolhar neste tumor maligno do modernismo, feito de impressionismos vagos, de exaltações suspeitas, de sentimentalismos  adocicados, de um filantropismo naturalista e de um irracionalismo sensualista. Mas, sobretudo, o modernismo, por sua própria natureza, se apresentava com esta nota inédita: era a primeira heresia que não abria luta declarada contra a doutrina oficial, mas se confundia habilmente em manejos tortuosos, procurando aninhar-se jeitosamente no seio da Igreja.

Pois bem. Foi Pio X quem, de espada em punho, saiu a desentocar a serpente, para tocá-la donde ela não queria sair.
Entretanto, embora ferido de morte, o modernismo ainda continua a existir por aí, procurando sempre empestar os ambientes católicos. Certas mofas, que de vez em quando se ouvem, contra o raciocínio discursivo e contra o valor da apologética, não tem outra origem. Certo gongorismo intelectual, que consiste em jogar jeitosamente com o valor das idéias, burlando-lhes o sentido tradicional, tudo consistindo em divagações imprecisas, cheias de vaidade e pobres de verdade, com aparências de profundidade, e não passando de escamoteação, também vem daí. Esta incoerência em que se diluem os conceitos mais elementares, que se pode notar tantas vezes, ainda é modernismo. E, principalmente, tanto
laxismo, que corre mundo sob capa de caridade, não passa de autentico modernismo.
Portanto, nada mais a tempo que a próxima beatificação de Pio X, a fim de que as virtudes do grande Papa sejam um estímulo e exemplo para os que combatem os erros da era presente. 
Legionário, n° 488, 18 de janeiro de 1942, pág. 1


Quanta conclusão a tirar desse artigo de 1942, mas tão atual...