Nelson Ribeiro Fragelli
Esta visão é a de um homem ou de uma mulher portando chapéu nas movimentadas ruas de nossas megalópoles. O chapéu sobrevive como um sinal de distinção social. Ele oferece uma visão da antiga cortesia que gravitava em torno da dignidade da pessoa humana. Em se tratando do porte de chapéu, talvez não se devesse falar nos atuais dias em homem e mulher, mas em cavalheiro e dama.
Será razoável achar que o chapéu desperta — mesmo quando não se fixa a atenção nele — tantos movimentos de alma? Convido o leitor a fazer a experiência. Pergunte discretamente aos conhecidos e amigos, quando virem alguém portando chapéu, atravessando o Viaduto do Chá ou em passeio num fim de tarde em Copacabana. Ouça as opiniões. Discretamente as anote. Elas revelarão que estas considerações não estão longe da realidade.
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A primeira objeção formulada contra o porte do chapéu neste segundo decênio do século XXI é tão banal que contra ela hesita-se em esgrimir. Os leitores de Catolicismo — conhecedores, portanto, de nossas posições contra-revolucionárias — dariam a ela fácil resposta. Vale a pena, entretanto, analisar a raiz de sua banalidade. Frequentemente a banalidade é a máscara usada por uma inconfessável e ferrenha oposição. O chapéu, diz esta objeção, tinha no início do gênero humano a finalidade de proteger a cabeça contra as intempéries, mas com o progresso essa finalidade se perdeu. Na cidade ou no campo, a tal ponto a modernidade criou meios tão mais eficazes para agasalhar a parte superior do corpo que o chapéu perdeu sua utilidade. Logo, portá-lo hoje seria dar mostra de atraso cultural ou de apego a uma moda irracional. Esta é a oposição feita pelos assim chamados espíritos práticos e funcionais ao atual uso do chapéu.
Esses espíritos não querem considerar que a cabeça é a parte mais nobre do corpo. Nela residem as faculdades que mais levam à cognição intelectual e, portanto, aquelas que mais influenciam a formação espiritual. A cabeça foi posta pelo Criador no alto do corpo, de onde ela comunica sua dignidade, através dos séculos, à indumentária que a protege, assim como a dignidade do rei se transmite a seus próximos servidores. Diferentes épocas em países diversos conferiram ao chapéu formas, dimensões, cores e adornos indicativos da dignidade de quem o portava. Essa indumentária tornou-se, pois, um símbolo. Desse símbolo o chapéu, tal como hoje existe, é um depauperado, mas digno herdeiro, sustentado pelo bom gosto de muitos que não permitem seu desaparecimento. Ele é apenas uma exterioridade. Mas, conforme Plinio Corrêa de Oliveira, uma “exterioridade que revela, através dos sentidos, uma essência misteriosa, recôndita, de caráter simbólico, nela existente”.
Winston Churchill
De que adianta à conduta de cada um a procura desses símbolos? Os observadores mais penetrantes da personalidade de Winston Churchill diziam que “ele via, nos seres e nas situações, símbolos fora do tempo que encarnam princípios eternos e brilhantes”. Esses mesmos princípios lhe deram força nas horas trágicas da luta contra o hitlerismo, sustentando-a quando tinha como recompensa apenas“sangue, suor e lágrimas”.
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Assim como o barrete é portado pelo sacerdote para exprimir a misteriosa virtude do mediador entre Deus e os homens, o chapéu, portado com dignidade, evoca gestos e atitudes integrantes de uma verdadeira liturgia social, necessária aos atos humanos numa sociedade cristã. Num e noutro, no barrete e no chapéu, o católico deve “procurar algo que não é seu aspecto prático — algo que os espíritos que adoram o prático e a vida terrena chamarão de ‘coisa inútil’ —, ele deve procurar princípios que dão o sentido da vida e preparam a alma para o Céu” (Plinio Corrêa de Oliveira).
Um comentário:
Muito interessante este artigo! Realmente, o chapéu dá às pessoas, uma dignidade e uma distinção sem par! Gostei!
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