domingo, 24 de abril de 2016

Uma nova igreja?

O enfaramento com notícias escandalosas e sensacionalistas é um fenômeno muito comum que atinge todos nós.
Após uma dose contínua e prolongada dessa espécie de droga que é a sensação muito forte, as pessoas se desinteressam e passam a buscar outra coisa; é o fruto do desgaste. O afã desesperado das TVs para manterem audiência indica o quanto esse fenômeno lhes é danoso.
Alguém está fazendo este caminho paradigmaticamente, o qual vem desagradando parcelas cada vez mais amplas da opinião pública católica e impressionando-a cada vez menos. Além disso está despertando uma crescente reação: é o Papa Francisco com o seu estilo único.
 Na ponta de uma fila de mais de duzentos e sessenta Papas e quase dois mil anos de História da Igreja, surge um que em quase nada se parece e em quase tudo diverge da conduta dos anteriores. Inicialmente o seu pontificado despertou a esperança que seria bom, mas hoje a desesperança ganhou a frente em parcelas cada vez maiores do público católico. 
Vai se tornando indiscutível seu apoio aos esquerdistas mais radicais e violentos como Stédile, os irmãos Castro, e o seu incentivo à revolução contra os proprietários. Ao contrário de Nossa Senhora de Fátima, ele não pede a conversão dos pecadores nem a penitência dos pecadores, mas lhes faz entender que basta terem amor, sorrirem e tudo dará certo.  O mesmo acontece com relação aos hereges e membros de outras religiões. Todos se abraçando é o reino de Deus nesta terra.
Lendo o extraordinário livro Minha Vida Pública, compilação de notas biográficas de Plinio Corrêa de Oliveira publicado pela Editora Artpress em 2015, detectei um trecho nas páginas 200 e 201, no qual o líder católico descreve a doutrina modernista da Ação Católica, tal como ele a via em 1943. Parece feito para hoje:
“Os homens, no fundo, não são maus. Eles são maus porque os bons desconfiam deles. No dia em que o bom confiar no mau, o mau se converte e se torna bom. Com o mau a gente deve conduzir a política da mão estendida. Deixemos todos os homens fazerem o que quiserem, que tudo correrá bem”
“No livro Em Defesa da Ação Católica apontei esse erro fundamental como sendo o ponto de partida de um certo ecumenismo. O ecumenismo pressupõe que, estabelecendo-se relações amáveis, dulçurosas, com os hereges, com os cismáticos, a pessoa os acaba convertendo.
“O apostolado deveria ser, portanto, ecumênico: discussões jamais, polêmicas jamais; o sorriso seria o veículo natural da graça de Deus.
“E se uma pessoa, em vez de sorrir e de ser amável, discutisse com os que estão no erro, essa pessoa rejeitaria o ‘fiel do Cristo’ que quer vir ‘ao Cristo’.
“Era preciso, portanto, jamais dizer a alguém: ‘Você está no erro, você não pode pensar assim’. Ou: ‘Tal maneira de proceder é contra tal Mandamento da Lei de Deus’. Não! Sorrir! Somente sorrir”.

Impressiona enormemente a adequação desse texto à atuação do Papa Francisco.
A sequência da citação expressa ainda outro aspecto da questão, também muito coincidente com a “pastoral” que hoje se inculca.

”E então a atitude militante da Igreja não tinha mais razão de ser. A atitude da Igreja devia ser conciliante, própria a reconciliar e fazer com que as pessoas boas, as pessoas honestas vencessem sempre a batalha não combatendo. O resultado seria que, diante de tanto amor, tanto amor, tanto amor, a maldade humana não resistiria.
“Não havia, pois, razão para estar combatendo. A luta era uma coisa errada.”

É impressionante a coincidência também com a perseguição que sofrem todos os que obedecem a Deus cumprindo os Mandamentos e, em consciência, repudiam a generalizada insubmissão a eles.

Para abordar um tema atualíssimo que comprova nossa análise, vejamos o enfoque da teoria relativista do Cardeal Kasper, e adotada por Francisco na Amoris Laetitia, de que a Lei de Deus é uma coisa e a sua prática é outra. Esta tese aberra da lógica. Seria como afirmar ser o código de trânsito de uma megalópole apenas letra. Na prática, os motoristas podem fazer o que bem entenderem. Seria um desastre!



Alguém me dirá:
-- Você não pode criticar assim o Papa. Sendo ele quem é, a atitude que você toma é um desrespeito flagrante à autoridade dele. É preciso seguir tudo o que ele diz sem tergiversar.

Quem quer que conheça um pouco de Teologia ou de Direito Canônico sabe que o carisma da infalibilidade só ampara o Sumo Pontífice em certos atos do Magistério, praticados em condições muito definidas. E que a adesão devida aos seus ensinamentos doutrinários não infalíveis não importa em proibir os fiéis de discordar – com fundadas razões – de atos concretos praticados por um Papa.

Esta doutrina foi sustentada em data relativamente recente por um abalizado teólogo que depois se tornou Papa: Joseph Aloysius Ratzinger, ou seja, Papa Bento XVI. Disse ele:
“É possível e até necessário criticar os pronunciamentos do papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições, poder-se-á também suspeitar da legitimidade de um pronunciamento papal” (Joseph Ratzinger, Das Neue Volk Gottes – Enwürfe zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael Mahl: O Novo Povo de Deus, Paulinas, São Paulo, 1974, p. 140).


A cada dia que passa ficamos atônitos e nos perguntamos: Estaremos em presença de uma nova doutrina? De uma nova igreja? Tal a quantidade de dissonâncias com o Magistério da Santa Igreja, não só em seus documentos escritos, como também na doutrina subjacente à sua práxis inovadora que a pergunta se põe. Realidade que está sendo percebida com perplexidade pelos católicos do mundo inteiro numa proporção que vai aumentando dia a dia.

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