O enfaramento com notícias
escandalosas e sensacionalistas é um fenômeno muito comum que atinge todos nós.
Após uma dose contínua e
prolongada dessa espécie de droga que é a sensação muito forte, as pessoas se
desinteressam e passam a buscar outra coisa; é o fruto do desgaste. O afã
desesperado das TVs para manterem audiência indica o quanto esse fenômeno lhes
é danoso.
Alguém está fazendo este
caminho paradigmaticamente, o qual vem desagradando parcelas cada vez mais
amplas da opinião pública católica e impressionando-a cada vez menos. Além
disso está despertando uma crescente reação: é o Papa Francisco com o seu
estilo único.
Na ponta de uma fila de mais de duzentos e
sessenta Papas e quase dois mil anos de História da Igreja, surge um que em quase
nada se parece e em quase tudo diverge da conduta dos anteriores. Inicialmente
o seu pontificado despertou a esperança que seria bom, mas hoje a desesperança
ganhou a frente em parcelas cada vez maiores do público católico.
Vai se tornando indiscutível
seu apoio aos esquerdistas mais radicais e violentos como Stédile, os irmãos
Castro, e o seu incentivo à revolução contra os proprietários. Ao contrário de Nossa
Senhora de Fátima, ele não pede a conversão dos pecadores nem a penitência dos
pecadores, mas lhes faz entender que basta terem amor, sorrirem e tudo dará certo. O mesmo acontece com relação aos hereges e
membros de outras religiões. Todos se abraçando é o reino de Deus nesta terra.
Lendo o extraordinário livro
Minha Vida Pública, compilação de
notas biográficas de Plinio Corrêa de Oliveira publicado pela Editora Artpress
em 2015, detectei um trecho nas páginas 200 e 201, no qual o líder católico
descreve a doutrina modernista da Ação Católica, tal como ele a via em 1943.
Parece feito para hoje:
“Os homens, no fundo, não são maus. Eles são maus
porque os bons desconfiam deles. No dia em que o bom confiar no mau, o mau se
converte e se torna bom. Com o mau a gente deve conduzir a política da mão
estendida. Deixemos todos os homens fazerem o que quiserem, que tudo correrá
bem”
“No livro Em Defesa da Ação Católica apontei esse
erro fundamental como sendo o ponto de partida de um certo ecumenismo. O ecumenismo pressupõe que, estabelecendo-se relações amáveis, dulçurosas,
com os hereges, com os cismáticos, a pessoa os acaba convertendo.
“O apostolado deveria ser, portanto, ecumênico: discussões jamais,
polêmicas jamais; o sorriso seria o veículo natural da graça de Deus.
“E se uma pessoa, em vez de sorrir e de ser amável, discutisse com os
que estão no erro, essa pessoa rejeitaria o ‘fiel do Cristo’ que quer vir ‘ao Cristo’.
“Era preciso, portanto, jamais dizer a alguém: ‘Você está no erro, você
não pode pensar assim’. Ou: ‘Tal maneira de proceder é contra tal Mandamento da Lei de Deus’. Não! Sorrir! Somente sorrir”.
Impressiona enormemente a adequação desse texto à atuação do Papa Francisco.
A sequência da citação expressa ainda outro aspecto da questão, também
muito coincidente com a “pastoral” que hoje se inculca.
”E então a atitude militante da Igreja não tinha mais razão de ser. A atitude da
Igreja devia ser conciliante, própria a reconciliar e fazer com que as
pessoas boas, as pessoas honestas vencessem sempre a batalha não combatendo. O
resultado seria que, diante de tanto amor, tanto amor, tanto amor, a maldade
humana não resistiria.
“Não havia, pois, razão para
estar combatendo. A luta era uma coisa errada.”
É impressionante a
coincidência também com a perseguição que sofrem todos os que obedecem a Deus
cumprindo os Mandamentos e, em consciência, repudiam a generalizada insubmissão
a eles.
Para abordar um tema
atualíssimo que comprova nossa análise, vejamos o enfoque da teoria relativista
do Cardeal Kasper, e adotada por Francisco na Amoris Laetitia, de que a Lei de Deus é uma coisa e a sua prática é
outra. Esta tese aberra da lógica. Seria como afirmar ser o código de trânsito
de uma megalópole apenas letra. Na prática, os motoristas podem fazer o que bem
entenderem. Seria um desastre!
Alguém me dirá:
-- Você não pode criticar assim o Papa. Sendo ele quem
é, a atitude que você toma é um desrespeito flagrante à autoridade dele. É
preciso seguir tudo o que ele diz sem tergiversar.
Quem quer que conheça um
pouco de Teologia ou de Direito Canônico sabe que o carisma da infalibilidade
só ampara o Sumo Pontífice em certos atos do Magistério, praticados em
condições muito definidas. E que a adesão devida aos seus ensinamentos
doutrinários não infalíveis não importa em proibir os fiéis de discordar – com
fundadas razões – de atos concretos praticados por um Papa.
Esta doutrina foi sustentada
em data relativamente recente por um abalizado teólogo que depois se tornou
Papa: Joseph Aloysius Ratzinger, ou seja, Papa Bento XVI. Disse ele:
“É possível e até necessário criticar os
pronunciamentos do papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura
e no Credo, ou seja, na fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a
unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode
também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições,
poder-se-á também suspeitar da legitimidade de um pronunciamento papal” (Joseph
Ratzinger, Das Neue Volk Gottes – Enwürfe
zur Ekkleseologie, Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1969, trad. br. por Clemente Raphael
Mahl: O Novo Povo de Deus, Paulinas,
São Paulo, 1974, p. 140).
A cada dia que passa ficamos
atônitos e nos perguntamos: Estaremos em presença de uma nova doutrina? De uma
nova igreja? Tal a quantidade de dissonâncias com o Magistério da Santa Igreja,
não só em seus documentos escritos, como também na doutrina subjacente à sua práxis
inovadora que a pergunta se põe. Realidade que está sendo percebida com
perplexidade pelos católicos do mundo inteiro numa proporção que vai aumentando
dia a dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário