Não faz muito tempo, uma viagem inesperada me obrigou a voltar para casa de madrugada. Eram mais de 3 horas quando entrei na “selva de pedra” praticamente sem trânsito. Foi rápido.
Exausto, cumpri na íntegra o ritual dos civilizados, rezei, deitei-me e apaguei a luz.
Antes que o sono me assaltasse, ainda pude ouvir, reprovando, o ruído de um ônibus arrancando de um ponto; não tardou foi a sirene de uma ambulância; como fundo constante no ambiente, um zumbido ininterrupto dos automóveis.
Pensei comigo, que castigo esses sons agressivos da noite megalopolitana! Que saudades dos pacatos silêncios interioranos das pequenas cidades.
Quase dormido, ouço sair do fundo escuro da cidade de concreto, um cântico melódico, um pouco melancólico, mas cheio de ordenação, de paz.
Um sabiá, arrostando o ateísmo pétreo do Moloch de cimento, postado no galho de um flamboyant, canta a plenos pulmões.
Seguro de si, não se envergonha do antiquado canto que lança no ambiente. Despreza a brutal contradição entre a frieza radical da cidade onde vive, e o seu canto cheio de encantadora e poética simplicidade.
É incrível, mas o cântico do sabiá laranjeira, tem uma capacidade de rasgar a escuridão e levar um pouco de tranqüilidade ao homem não indiferente. Basta ser um crítico objetivo da pseudo civilização atual e sensível às autênticas belezas da natureza para fruir essa delícia.
Apesar de tanta coisa que me desagrada na feia cidade de concreto, pensei, gosto imensamente da mensagem que o canto do sabiá me tráz.
De onde vem tanta graça?
O sabiá, não peca contra Deus. Cumpre ele o papel que Deus lhe deu. Não existe contradição de natureza nem de comportamento nele. Eu diria que ele é feliz; muito feliz.
Toda a sua ordenação e harmonia se traduzem melodicamente na mensagem que de tão agradável nos estimula a buscar compreende-la melhor. Tentemos.
Se a ordenação do pequeno sabiá com relação ao fim para o qual foi criado se traduz tão bem no seu gracioso solo musical, que sinfonia emite espiritualmente a alma do homem que cumpre da mesma forma o que dele deseja o Criador!?
Essa é a sinfonia que está apagada no mundo e que precisa voltar a tocar. Vivemos na cacofonia da contradição com nossa finalidade. Longe de Deus, a sociedade perdeu o seu mais belo espetáculo sinfônico, a civilização cristã.
Que interessante relação simbólica entre a natureza e os homens.
Nesse momento me dei conta que os ecologistas se mostram defensores da natureza, mas não se encantam com as belezas que Deus colocou nela. Flagrante contradição.
Na realidade, o seu intuito principal é, sob o pretexto de defender a natureza (nada mais razoável desde que feito com sabedoria), estabelecer ferramentas que subjuguem os homens, as quais se têm mostrado cada vez mais asfixiantes da alma humana. Isso não é amar a natureza, é odiar o homem.
Deus fez do homem o rei da natureza. Através do homem a natureza pode dar o melhor de si, mas para isso o homem tem que ser amigo de Deus, amá-lO e cumprir o que Ele pede. Só assim o homem será realmente HOMEM e a natureza dará o seu grande.
Agradeci a Deus o pensamento e adormeci comprazido.
4 comentários:
Salve Maria!
Excelente reflexão sr. Marcos. O curioso é que o ambiente aqui na minha cidade estava exatamente o descrito no texto: ruídos de automóveis, buzinas, etc... e de repente: um belo canto de pássaro! Não só pude apreciar o texto, como a impressão e a meditação que o sr. fez.
De fato, o canto do pássaro é muito belo e isto realmente nos leva pensar numa outra ordem de coisas, num homem mais elevado, numa civilização mais elevada: a civilização cristã.
Recomendações,
Em Jesus e Maria!
Parabéns ao autor deste texto!
Expressa muito o que se passa em nossas almas, pois "a paz é a tranquilidade da ordem".
Que vôo de pensamento; difícil imaginar como um homem cansado a essas horas da noite conseguiu ter essa reflexão, daí entendemos como é um homem católico com sua alma postada toda em Deus por Maria. Que Nossa Senhora lhe favoreça com muitas graças.
Parabéns muito bom
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