Que Nosso Senhor, cabeça da Igreja, suscite um novo
Adriano VI proporcionado aos problemas de nossos dias. Para edificação e
esperança dos leitores, a leitura do texto abaixo parece realmente oportuna.
Esse texto, contendo uma alentada citação do Papa
Adriano VI, é de Plinio Corrêa de Oliveira, e o extraímos de seu prefácio ao livro: “A TFP: uma vocação. TFP e famílias. TFP e famílias na crise
espiritual e temporal do século XX”. (http://www.pliniocorreadeoliveira.info/PRE_8602_Papa_AdrianoVI_meaculpa.htm).
Por brevidade, deixamos de transcrever as notas de
rodapé referentes ao prefácio.
Adriano VI (1522-1523),
nascido em Utrecht (Holanda), mas considerado o "último Pontífice
alemão" até que fosse elevado à Sé de Pedro o Papa Bento XVI (2005-2013).
A
família e a Igreja em crise
A
responsabilidade por essa situação desastrosa não toca apenas ao Estado.
A
Santa Igreja Católica, a única verdadeira Igreja de Deus, se vê envolta hoje em
uma crise cuja gravidade já foi discernida por Paulo VI, bem insuspeito,
entretanto, de pessimismo ou animadversão para com o mundo moderno, ao qual fez
aberturas que surpreenderam por vezes não poucos dentre os melhores.
João
Paulo II, entretanto tão benévolo – ele também – em relação ao mundo moderno,
expendeu reflexões análogas; e um Prelado eminente pelo saber e pelas altas
funções que ocupa na Santa Igreja, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da
Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, publicou em 1985 seu famoso
"Rapporto sulla Fede", no qual se deve louvar a nobre franqueza com
que descreve sintomas altamente expressivos da crise que lavra como um incêndio
no interior da Santa Igreja.
O
valor deste autorizado testemunho cresce ainda de ponto considerando-se que o
Purpurado, quer no conjunto de sua obra de intelectual, quer em sua atuação à
testa do ex-Santo Ofício, vem seguindo uma linha que não permite incluí-lo
honestamente entre os que as "mass-media" qualificam de reacionários,
saudosistas, extremistas da intolerância etc.
Ora,
de onde procede essa dolorosa crise na Igreja? Sem dúvida, e em larga medida,
de agentes do Leviatã comunista que, de fora da Cidade Santa, se empenham com
esforço total em
destruí-La. Mas uma pesquisa dos fatores dessa crise não
seria lúcida nem proba se se limitasse a olhar para além dos muros dEla. Cumpre
indagar se também entre os católicos – entre os leigos bem entendido, mas
também nas fileiras augustas da Sagrada Hierarquia – há propulsores de tal
crise.
A
pergunta pode surpreender a alguns… dia a dia menos numerosos. Não faltará
ainda quem brade, alarmado, que ela é escandalosa, revolucionária, blasfema.
É
explicável que a tais reações conduza a crassa ignorância religiosa em que
estão imersos tantos fiéis neste triste ocaso do século XX. Na realidade, se
conhecessem melhor a doutrina e a História da Igreja, a reação deles seria bem
outra. A fim de evitar digressões doutrinarias, destinadas a aplacar tal
estranheza, as quais se afastariam por demais do eixo central das presentes
considerações, basta lembrar aqui um documento memorável, a instrução do
Papa Adriano VI (1522-1523), lida pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati
aos Príncipes alemães reunidos em dieta, em Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523.
Transcreve
largos trechos desse documento o historiador austríaco Ludwig von Pastor em sua
obra célebre "Geschichte der papste" – História dos Papas. A
conjuntura em que essa instrução foi ditada pelo Pontífice se insere na
terrível crise protestante do século XVI, tão semelhante e ao mesmo tempo tão
menos profunda do que a de nossos dias.
Dessa
Instrução destacamos os seguintes tópicos:
"Deves (dirige-se o Pontífice ao
Núncio Chieregati) dizer também que reconhecemos livremente haver Deus
permitido esta perseguição a sua Igreja, por causa dos pecados dos homens, e
especialmente dos Sacerdotes e Prelados, pois de certo não se encurtou a mão do
Senhor para nos salvar; mas são nossos pecados que nos afastam dEle, de modo
que não nos ouve as suplicas.
"A Sagrada Escritura anuncia
claramente que os pecados do povo tem origem nos pecados dos sacerdotes, e
por isto, como observa (São João) Crisóstomo, nosso Divino Salvador,
quando quis purificar a enferma cidade de Jerusalém, dirigiu-se em primeiro
lugar ao Templo, para repreender antes de tudo os pecados dos sacerdotes; e
nisso imitou o bom médico, que cura a doença em sua raiz.
"Bem sabemos que, mesmo nesta
Santa Sé, ha já alguns anos vem ocorrendo, muitas coisas dignas de
repreensão; abusou-se das coisas eclesiásticas, quebrantaram-se os preceitos,
chegou-se a tudo perverter. Assim, não é de espantar que a enfermidade se tenha
propagado da cabeça aos membros, desde o Papa até aos Prelados.
"Nós todos, Prelados e
Eclesiásticos, nos afastamos do caminho reto, e já há muito não há um que
pratique o bem. Por isso devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em
sua presença; que cada um de nós considere por que caiu, e se julgue a si
mesmo, ao invés de esperar a justiça de Deus no dia de sua ira.
"Por isto (igualmente) deves tu
prometer em nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligencia
a fim de que, em primeiro lugar, seja reformada a Corte romana, da qual talvez
se tenham originado todos esses danos; e acontecerá que, assim como a
enfermidade por aqui começou, também por aqui comece a saúde.
"Nós nos consideramos tanto mais
obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante
reforma.
"Porém não procuramos nossa
dignidade pontifícia (o Papado que Adriano VI exerce), e de mais bom grado
teríamos terminado na solidão da vida privada nossos dias; de bom grado
teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a legitimidade da eleição e o
perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o supremo munus pastoral. Em
consequência, queremos exerce-lo não por ambição de mando, nem para enriquecer
nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja, Esposa de Deus, sua antiga
formosura, prestar auxilio aos oprimidos, elevar os varões sábios e virtuosos,
e genericamente fazer tudo o que compete a um bom pastor e verdadeiro sucessor
de São Pedro.
"Não obstante, que ninguém se
surpreenda, se não corrigirmos todos os abusos de um só golpe; pois as doenças
estão profundamente arraigadas e são múltiplas; pelo que é preciso proceder
passo a passo, e opor primeiramente os oportunos remédios aos danos mais graves
e perigosos, para não perturbar ainda mais a fundo por meio de uma precipitada
reforma de todas as coisas. Com razão diz Aristóteles que toda mudança
repentina é muito perigosa para uma sociedade" .
Quantos ensinamentos profundos há a deduzir dessas nobres e sábias
considerações! Ninguém as pode tachar de irreverentes para com a Santa Igreja,
de escandalosas, revolucionárias, blasfemas, como de bom grado o fariam certos
católicos de vistas estreitas.
E
quantos exemplos concretos haveria que citar em cada país da Cristandade contemporânea em confirmação desses
ensinamentos de Adriano VI! (...).
Um comentário:
Está evidente que a crise na Igreja remonta ao século XVI. Os fatores dessa crise são externos e muito mais, internos. A santidade do papa Adriano VI nos faz crer que o Espírito Santo A assiste e não nos deixará órfãos.
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